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09/06/2016 : OUSE ASSUMIR A SUA IMPERFEIÇÃO E SE ACEITAR TAL QUAL É!

OUSE ASSUMIR A SUA IMPERFEIÇÃO E SE ACEITAR TAL QUAL É!
Adalgisa Almeida*

Para todo lado que me viro sou convocada a Ser Perfeita. Os outdoors mostram belos modelos, masculinos e femininos como padrões de beleza e elegância, e eu olho para mim e me comparo. Não me pareço muito, mas, quem sabe... um pouquinho em alguma coisa. Ou... talvez um dia?!...
Vou fazer uma entrevista e a clássica pergunta: "Quais são seus pontos fortes?.. Seus talentos?... O que as pessoas dizem que você faz bem?..."
E se você é um gestor ou se candidata a, existe uma interminável lista de habilidades e competências desejáveis que você vasculha em si mesmo e, ainda que seja em teoria, você tenta identificar que possui para fazer bonito.
Numa reunião de amigos muitas conversas giram em torno da roupa que fulana estava usando. Comprada onde?... Já usou em outra ocasião?... Ou então sobre as gafes que foram cometidas pela beltrana. Busco sinais de imperfeição no outro para encobrir o que não quero mostrar e considero como minha imperfeição.
Em casa, os nossos pequenos querem usar a roupa da Frozen, do Super Homem para se sentirem importantes, perfeitos dentro da sua fantasia. E choram quando não se percebem tão lindos como o coleguinha.
Enquanto estão comportados, limpinhos, sem "aprontar confusão" eles são aceitos e admirados: "Que criança bem-comportada! Que fofinha! Parece uma mocinha! É tal qual um homenzinho!" Caso contrário, vira o patinho feio gerando insatisfação e acaba por levar reprimenda dos pais.
E, quem diria, temos um discurso sobre a espontaneidade e simplicidade da infância. Não nos damos conta que nosso olhar é seletivo e repleto de juízo de valor para com a criança, inclusive para com a nossa criança, se a temos. Queremos que ela faça bonito, que seja e esteja charmosa, para sermos vistos como bons educadores e cuidadores.
As exigências e cobranças são imensas, vindas de todos os lados, e para onde me viro deparo com a realidade que projetei para mim: "Não consigo atender às exigências que imagino me são feitas. Não consigo ser elegante o bastante... magra o bastante... inteligente e competente o bastante... alegre e divertida o bastante..." E sem perceber sinto carregar sobre mim o pesado fardo do sentimento de inadequação, de vergonha de ser quem e como sou, de pensar que não correspondo às expectativas. Na verdade, o que ocorre é que não correspondo às exigências que faço a mim mesma. A imagem que idealizei e quero projetar da minha pessoa não corresponde àquela que de fato sou.
É quando me vem à lembrança a história do amor-perfeito no jardim do rei. Conta-se que em certa manhã um rei foi ao seu jardim e encontrou as plantas murchando e morrendo. Perguntou ao carvalho que ficava junto ao portão o que significava aquilo.
Descobriu que a árvore estava cansada de viver porque não era alta e elegante como o pinheiro. O pinheiro, por sua vez, estava desconsolado porque não produzia uvas como a videira. A videira ia desistir da vida porque não podia ficar ereta e nem produzir frutos delicados como o pessegueiro. O gerânio estava agastado porque não era alto e cheiroso como o lírio. O mesmo acontecia com todo o jardim.
Chegando ao amor-perfeito, o rei encontrou sua corola brilhante e erguida alegremente como sempre. Então lhe disse: "Muito bem meu amor-perfeito, alegro-me de encontrar no meio de tanto desânimo uma florzinha corajosa e feliz. Você não parece nem um pouco desanimado".
- "Não, não estou, meu rei! Eu não sou de muita importância, não sou grande nem forte, não tenho beleza ou perfume, mas apenas achei que se no meu lugar nosso Deus quisesse um enorme carvalho, um pinheiro, um pessegueiro ou um lírio, Ele teria plantado um deles. Mas sabendo que o Senhor Deus queria um amor-perfeito, estou resolvido a ser o melhor amor-perfeito que posso ser".
Cada um de nós está aqui porque o universo, a sociedade, as pessoas, precisam de nós como somos. Do contrário, outra pessoa estaria aqui em nosso lugar. Cada um tem uma missão especial que somente podemos realizar sendo como somos. E o que vemos hoje é que muitos e muitos de nós se perdeu, cada um tentando ser uma outra pessoa, nos mascarando como um outro ser diferente do que somos, e não assumindo nossa essência, nossa verdade interior.
Temos medo e vergonha de mostrar nossa vulnerabilidade, imperfeição, e com isto nos afastamos de nós mesmos e do outro, que tem dificuldade de se aproximar de nós, por não conseguir ter clareza de quem e como somos. E o incrível é que o que imaginamos como sendo a nossa imperfeição aos olhos dos outros, é vista como a nossa perfeição, nossa singularidade. É através dela que nos irmanamos, nos unimos e podemos, de fato, contribuir para a própria felicidade e felicidade do outro.
A necessidade de sermos aceitos, amados, incluídos é ainda mais urgente que a simplicidade de apenas SER. E ainda não sabemos o que é apenas SER.
Quando me pergunto se eu me amo, titubeio e a resposta não vem rápida, concluída, redonda. Costumo dizer um tímido “sim” acompanhado de um “mas... A resposta não é espontânea pelo simples fato de ainda não conseguir ser realmente autêntica comigo mesma.
Convoco cada um de vocês, assim como convoco a mim mesma: “Pare de tentar ser perfeito. Ouse assumir a sua imperfeição e aceite-se tal qual é, no ambiente em que se encontre, na idade e situação que esteja. ”
E pratique o exercício diário de se acolher, aceitar sua diferença, sua “enganosa” imperfeição e entender e respeitar o outro na sua individualidade. É através dessa diferença que permaneceremos “imortais”, como seres únicos dentro de um mundo de imensas possibilidades.

*Adalgisa Almeida – Consultora de empresas (gestão, liderança, equipes); Executive, Professional, Carrier e Personal Coach; Facilitadora em programas de autotransformação - metodologia Pathwork, e em Mindfulness.